quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O futebol intransitivo - por Luiz Paulo Baravelli

Somos todos arranjos provisórios de átomos de Segunda mão. Enquanto esse arranjo se mantém estável, devemos tentar algum sentido, neste estado tremelicante, que aqueles que vivem chamam de vida. Depois de todo esse profissionalismo, todas essas estrelas, todos esses milhões, penso no que, à falta de melhor nome chamo de futebol intransitivo.
Em um futebol sem bola, sem chuteiras, sem times, sem técnicos ou cartolas. Ele se define pelo que não é, pelo que não tem. É jogado no arredorzinho do apartamento, entre as carteiras de escola, no almoxarifado da firma. Não falo de futebol ruim ou amador.
Aquele joguinho fuleiro entre casados e solteiros tenta ser futebol, apesar de todos estarem conscientes de suas limitações. É muitos pontos abaixo disso (não abaixo, mas dentro, no fundo). O futebol de que falo tem a mesma relação com o de verdade como uma espiral de DNA se parece com Júnior Baiano.
O futebol intransitivo tem dois princípios: não há limites e não há adversários. Joga-se com tampinha de cerveja, bolinha de papel, caixa de chiclete vazia; os gols às vezes não há, às vezes há um ou vários e são de todos os tipos: cesto de papel virado, caixote vazio, a porta da loja. Joga-se sozinho, é claro, ou em dois, três, quantos quiserem; não há demarcação de campo nem de duração, marcam-se gols, mas não se contam direito; os times se rearranjam ao sabor das circunstâncias. “Tá bom, vai lá, Arnaldinho, o Tico vem para o nosso lado, a gente diminui o nosso gol, e vocês passam a atacar para o lado de cima da ladeira.”
E não é um privilégio dos jovens: o senhor aposentado, que devolve de trivela a bola que escapou de jogo de moleques, está em plena intransitividade. Nesse estado pré (ou pós) – verbal vale tudo – irradiar o jogo enquanto se joga, discutir se a bola entrou ou foi por cima de uma trave que não há; argumentar que foi falta, sim, porque doeu, e que é tácito o jogo ser interrompido e cada um ficar congelado até o carro passar. Não há regras, exceto uma: quem chuta longe vai buscar. Oh, reino do equilíbrio e da justiça. Oh, paraíso onde respira consciência. As meninas brincam mas as mulheres, não – já vêm com acesso instalado à epifania metafísica que todos queremos. O futebol intransitivo foi o meio que nós, pobres homens, inventamos para tentar chegar lá. Há meios mais trabalhosos – a religião pede sacrifício, a ciência pede estudo, as artes pedem talentos especiais, alguns bebem e tomam drogas, outros se entopem de dinheiro, mas a visão do Todo não vem por meio do esforço. Basta achar na rua uma caixinha de fósforos abandonada e um vãozinho qualquer que sirva de gol. Chuta-se. A bola imaginária sai rente ao verde gramado virtual e vai lá, no cantinho, indefensável. E faz-se a luz.

A vida ativa nas atividades da vida

Outro dia estava conversando com algumas alunas do Ensino Médio e uma delas me fez a seguinte indagação: Como a Educação Física pode ser importante na faculdade que eu pretendo cursar? Excelente pergunta. Respondê-la pode parecer simples. Muitos são os argumentos que podemos utilizar nesta tentativa. Difícil será convencer esta aluna a ponto de modificar seus hábitos regulares. Tornar a atividade física uma prática habitual em sua vida.
Seria mais fácil responder a pergunta se ela fosse formulada da seguinte maneira: Como a Educação Física pode ser importante na minha vida? Muitas vezes esquecemos que estamos na escola não somente pela necessidade de prestarmos um vestibular para entrarmos em uma Universidade. Os conhecimentos adquiridos na escola – e eles nem sempre estão relacionados a conceitos teóricos – nos serão úteis na nossa vida dentro e fora do âmbito escolar. Soares et alii (1993, p. 212)* nos diz que

“Temos que considerar que o conhecimento é um dos modos de apropriação do mundo pelo homem, apropriação esta que somente se torna possível mediante a atividade humana.”

A aluna, na sua indagação, está fazendo uma projeção desta disciplina e de sua importância em sua vida. Sua preocupação não é imediatista. Preocupa-lhe o futuro.
Sua dificuldade em encontrar respostas à suas dúvidas, segundo acredito, está na maneira como a Educação Física é perspectivada no contexto escolar. Querer compreender a importância da Educação Física para a sua formação profissional é um erro. Seria melhor pensar na relevância desta para a sua atuação profissional. Imaginemos por exemplo um médico, durante uma cirurgia com duração aproximada de seis a oito horas. Não gostaria de ser o paciente se ele não apresentasse uma condição física satisfatória para manter, com a precisão adequada, durante todo o tempo os movimentos necessários para a realização desta tarefa.
Não quero dizer com isto, muito pelo contrário, que a Educação Física na escola deva se preocupar apenas com a aptidão física dos alunos. Mas sim, possibilitar a eles ao longo do seu programa a oportunidade de entender a importância da prática regular de atividades físicas e fazer com que adquiriram o hábito de praticá-las ao longo de suas vidas.
A importância de adotarmos uma vida mais ativa não é nenhum segredo e isto ninguém discute. Nosso objetivo, com este artigo, não é relacionar os benefícios oferecidos à saúde através da prática de atividades físicas. Esta importância, está cada vez mais difundida na sociedade moderna (Ou você ainda tem dúvidas?). Apesar disto, Guedes (1994, p. 68)* afirma que vivemos

“(...) Em uma sociedade, onde uma significativa proporção de pessoas adultas contribuem substancialmente para o aumento das estatísticas de distúrbios orgânicos, provocados pelas doenças degenerativas, em conseqüência da falta de hábitos de vida saudáveis, principalmente no que se relaciona com a atividade motora (...).”

Objetivamos relacionar a Educação Física e a prática de exercícios com a realização satisfatória das exigências motoras solicitadas nas tarefas diárias. Estas tarefas associam-se não somente com uma determinada atuação profissional mas também nas pequenas solicitações do dia-a-dia. Amarrar um cadarço é um bom exemplo. Repare como as pessoas de idade avançada têm preferência por calçados sem cadarço. Veja quantas situações como esta, presentes na nossa vida, podem se tornar com o tempo mais complicadas e comumente encontradas. Isto pode ser evitado se assumirmos, desde cedo, hábitos de vida mais ativos.
Façamos agora uma pequena experiência: Pense na sua profissão (ou aquela que você deseja exercer). Quais são as exigências motoras (movimentos necessários) para sua prática se efetuar de maneira mais satisfatória? Reflita como a adoção de uma vida mais ativa poderá contribuir na sua atuação profissional e na melhora da sua qualidade de vida.
Se você concluir que poucas são as exigências motoras solicitadas no seu dia-a-dia, esta já é uma excelente razão para começar a praticar atividades físicas regularmente. Ou você tem dúvidas que vivendo uma vida na qual as exigências motoras são mínimas, muitos serão os distúrbios orgânicos adquiridos em conseqüência de uma vida tão sedentária?Concluímos que, muito provavelmente, os conceitos aprendidos durante as aulas de Educação Física pouco venham a contribuir na formação acadêmica dos alunos durante o curso de graduação. Terá uma grande contribuição no processo, pois muitas são as exigências motoras utilizadas no seu dia-a-dia como estudante. Mas sem dúvida, terão ainda um papel fundamental na medida em que os hábitos e conhecimentos adquiridos nestas aulas estarão presentes durante toda as sua vida. E assim, passam a ter grande relevância no processo escolar e podemos entender como a Educação Física pode ser importante na faculdade que pretendemos cursar e na manutenção da saúde e de uma melhor qualidade de vida em todas as fases da vida.

Referência Bibliográfica:

Soares, C. L., Taffarel, C. N. Z. & Escobar, M. O. (1993) Educação Física escolar na perspectiva do século XXI. In Educação Física e esportes - perspectivas para o século XXI. (pp 211-224)Campinas, SP: Papirus.

Guedes, D. P. (1994). Implementação de programas de Educação Física escolar direcionados à promoção da saúde. Revista Bras. Saúde esc., 3 (1- 4). P. 67 – 75.