domingo, 23 de junho de 2013

Amar novamente - Adriano Cabral


 
 
"...vi na treva tudo desaparecer em silêncio, e ao sentir a iminência do fim, derramei lágrimas que lavaram todo meu orgulho e insensatez, toda minha inveja e minha ira, naquele exato momento voltei a ser criança...".
 
Descobri que sou capaz de amar novamente.
Foi na madrugada enquanto dormia desperto, tive a necessidade de abrir os olhos para contemplar a escuridão do meu quarto.
Descobri que sou capaz de amar novamente porque um dia, somente um dia, deixei de acreditar no amor. Porque, tolo, achei que ele havia me feito sofrer, mas ao acordar naquela madrugada, percebi que jamais se sofre por amor, e sim por falta dele e por causa de ilusões, estas sim, são frágeis e nos tornam fracos, no entanto, estão fadadas a desaparecer.
Naquele instante saltei da cama e saí literalmente cego a andar pelos corredores até chegar ao quarto contíguo e sem acender a luz, encontrei meu violão.
Descobri que sou capaz de amar novamente quando eu retornei ao meu quarto e na mesma escuridão, entoei uma música, estava de olhos cerrados. A canção falava de esperança, de um sol que quase sempre nasce, de lutar mesmo quando tudo parece perdido. Outra canção falava de sonhos perdidos, quimeras vazias, mas que para mim foram tão reais que pareciam preencher um certo vazio que até então acompanhava meu coração. Não sei se algum vizinho acordou irritado com a canção, só sei que apenas as vozes minha e do meu violão imperavam na treva brilhante.
Descobri que sou capaz de amar novamente, quando no meio da penumbra, embalado pela música, recordei todos os meus entes queridos de ontem, hoje e até do amanhã. Foram tantos os rostos, amigos, parentes, paixões e amores, e cada face que me fizeram viver tantas e diversas sensações desde da ventura até o desespero, no entanto ao final, não pude deixar de ver em cada um deles um sorriso e o perdão.
Descobri que sou capaz de amar novamente quando vi na treva tudo desaparecer em silêncio, e ao sentir a iminência do fim, derramei lágrimas que lavaram todo meu orgulho e insensatez, toda minha inveja e minha ira, naquele exato momento voltei a ser criança.
Descobri que sou capaz de amar novamente quando ao findar a música, escutei aplausos, assovios e vivas que ecoaram no silêncio da noite. Quando mesmo na penumbra pude saber que lá estava alguém que merece ser amada. Alguém que nem sonha o quanto eu lutarei para vê-la feliz e sentir o seu repousante abraço mas fatalmente hei de conhecer.
Descobri que sou capaz de amar novamente, porque mesmo já tendo trilhado o caminho errado, ainda tenho coragem para amar e ser amado. Porque faço parte da raça humana que ainda tem  força para sonhar e ver a incrível riqueza deste invisível que tão poucos realmente vêem e vivem.
 
Descobri que sou capaz de amar novamente, quando tive a certeza que ainda posso pular de olhos fechados, e, sem medo... voar.

Um comentário:

Andrea Caserta disse...

Muito lindo!!!
... Jamais se sofre por AMOR, e sim por falta dele... Adorei!!!

Bjsss!!!!