domingo, 18 de maio de 2014

Trigésimo oitavo contato

           

            Calma. Não há motivos para preocupação. Eu sei; já faz muito tempo. Não espere uma explicação. Em primeiro lugar porque não tenho uma. Em segundo, não preciso lhe dar satisfações. Não preciso de cerimônia para falar com você. Uma palavra mais ácida não deve causar-lhe aborrecimento. Mas, vamos de uma vez esclarecer as coisas: não existem regras para estas cartas. Se um dia não recebê-las mais, significa apenas uma coisa; nada. Não tire conclusões. Continue com sua vida e procure usar da melhor maneira o que tenho contado a você. Não. Não é pouco. Sei o que está pensando. Clarice Lispector tem razão “Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Talvez já tenha citado esta frase antes. Não importa. Viva.
            Falando em citações, tenho mais uma. “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. A frase, de Platão, pode ser encontrada na obra A alegoria da caverna. Sim, mais filosofia. Há muita verdade nesta frase. Ela também explica muitas coisas. Não vou discutir a obra. Pesquise você mesmo. Precisa entender apenas que para Platão podemos viver em um mundo de mentira, a caverna. Estarmos habituados e seguros nele. Inertes em suas poucas possibilidades. Ao longo da vida, nos estabelecemos em muitas cavernas.
Você nunca foi de ter medo do escuro. Muito menos da luz. Talvez, esta frase, nem mesmo seja para você. O que importa? A maturidade deveria nos ensinar a não ter medo da verdade. Parece acontecer exatamente o contrário. Vai entender o ser humano! Passa a vida inteira procurando pela luz da verdade, e quando finalmente a encontra, sentem medo. Podemos viver felizes todos os nossos dias nessa escuridão. A grande pergunta é: quando encontramos a verdade, ainda podemos viver assim?