sábado, 25 de novembro de 2017

Parte 42 – Quadragésimo segundo contato


 
            Talvez não; com certeza depende. Mas repare como as coisas mudam. Já está fazendo oito anos desde o nosso primeiro contato. Você tinha apenas catorze anos e um mundo inteiro de possibilidades à sua frente. Sua “Linha de Sombra”. Já falei sobre ela, está lembrado? Não é difícil descobrir do que se trata. Se tiver paciência para procurar, valerá a pena. Mesmo passado este tempo você ainda é bastante jovem, apesar de tudo que já viveu. O que não é nada comum para alguém da sua idade. Talvez ainda não tenha noção disso.
Em um de nossos contatos, falei que quando somos jovens temos a falsa sensação da imutabilidade do mundo. Talvez esteja percebendo agora, as coisas não são bem assim. Está em algum lugar entre 1993 e 1994. Desculpe se não estiver tão preciso. Mas posso garantir que este é um período muito importante para você. Conheço todas suas convicções. Sei exatamente o que está pensando. De maneira alguma irei interferir em suas decisões. Mas, estas mudanças serão importantíssimas em sua vida. Se a escolha é correta ou não? Ah! Seria fácil demais, não é? Vai descobrir sozinho.
            Chaplin falou que “Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre”. Nunca esqueça, esta foi sua decisão.  Nem sei porque falei isso, posso garantir que não vai esquecer. Esperei até agora para falar sobre ela justamente para não interferir em seus segundos. Mas independentemente do resultado das nossas escolhas, é sempre bom quando a mudança acontece desta forma. Com escolhas. Nem sempre elas ocorrem dessa maneira. E estas, são as piores possíveis. Como falei, conheço suas convicções e então se é isso que realmente quer e acredita, faça. Talvez você seja como Tolstoi, ele escreveu: “A razão não me ensinou nada. Tudo o que eu sei foi-me dado pelo coração”.





sábado, 4 de novembro de 2017

Quase – de Sarah Westphal


Tudo que eu queria falar. Sabe quando você gostaria de falar muita coisa? Às vezes, todas essas palavras que estão engasgadas acabam aparecendo de uma maneira ou de outra. Sem que você mesmo precise dizê-las. Tudo que eu queria falar, alguém falou...
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Quase – de Sarah Westphal

“O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si”.

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.