quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Parte 35 – Trigésimo quinto contato



Feche os olhos. Não. Fechar é muito tempo. Apenas pisque. Uma fração de segundos. Assim é a vida. Não à toa, diz o ditado que ela passa em um piscar de olhos. Pausa. Déjà vu. O início deste parágrafo lembrou-me algo que escrevi há pouco tempo. Não tem importância para você. Mesmo para mim, já está ficando para trás. Desculpe. Vou continuar. A vida passa muito rápido. Ser consciente desse fato não é suficiente. Ficar preocupado não é suficiente. O que é preciso fazer? Bem, como sempre, não tenho respostas prontas. Descubra. E rápido! Leve consigo uma certeza: não deve temer a passagem do tempo. É inevitável. Deve temer levar em seus dias o arrependimento de não aproveitá-lo. Li um dia destes, não recordo o autor, a seguinte frase: “é fato que nem sempre o mar vos será propício e o melhor vento enfunará as vossas velas. Mas é vosso o direito de reposicioná-las, e redefinir o vosso curso”. Não espere facilidades. Dizem que elas nos impedem de caminhar. Então, siga em frente. Sempre.
            Como já percebeu, minhas últimas cartas possui um tema recorrente. Não é por acaso. Acredite. Já ouviu dizer que nada é por acaso? Calma. Eu sei; você não acredita nisso. Não vamos falar sobre isso agora. Temos muito tempo. Ou melhor; você possui muito tempo. Você é jovem. Posso garantir: envelhecer trás algumas certezas. Ou melhor, muitas. William Shakespeare, com muita propriedade escreveu sobre elas. Tenho mais um desafio para você. Não terá dificuldades, espero. Um pequeno trecho do texto do dramaturgo inglês: “e começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança”. Encontre-o. Leia com cuidado. Mais de uma vez. Reflita. E o mais importante; guarde cada palavra.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um Pedaço de Você - por Paulo Roberto Gaefke


Entrelinha poderia ser definida como o espaço entre duas linhas. Simples. Mas nada é simples. O sentido implícito. O que não foi escrito ou falado. Então, interpretamos. E, tratando-se de interpretação, cada um tem a sua. Assim, encontre-se nas entrelinhas...
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"A vida pede atitude em cada instante, 
e passa por cima de quem se cala, de quem aceita, 
de quem acredita que tudo está irremediavelmente perdido..."

Um pedaço de você já ficou no tempo, quando você deixou de ler um bom livro, quando não acreditou naquele amigo…
Quando não aproveitou aquele instante para falar de amor, quando não abraçou seu pai e nem beijou a mãe. Um pedaço de você se perdeu na curva, quando abandonou o seu sonho sem tentar, quando aceitou trabalhar onde não gostava, quando fazia o que não suportava…
Quando disse sim, quando queria dizer não, quando deixou o amor morrer antes de nascer, por medo de sofrer…
Um pedaço de você ficou parado, quando você não quis fazer um novo percurso, quando se conformou com o velho, quando ficou parado vendo o povo correr…
Quando votou em branco, se podia escolher, quando não apareceu quando era esperado.
A vida pede atitude em cada instante, e passa por cima de quem se cala, de quem aceita, de quem acredita que tudo está irremediavelmente perdido.
A vida desacata quem não se aceita, humilha quem não se valoriza, ensina com amor os que amam sem medidas, ensina com dor, os que fogem das lições…
Um pedaço de você quer tudo, outro quer se esconder. Assim, cabe a você, só a você, dosar ansiedade e apatia, ter um tempo para criar e outro para executar…
Falar e ouvir, ensinar e aprender, caminhar e correr… Amar e ser amado, falar baixo e gritar.
Ter um tempo para refletir… Só não vale cruzar os braços! Só não vale não ser você! Só não vale esquecer: Que nada é mais importante que você...
(Paulo Roberto Gaefke)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Certeza - por Adriana Falcão



Definições não podem ser compreendidas apenas como o significado de algo. Definir pode ser muito mais complexo.  Pensando desta maneira, Adriana Falcão, roteirista e escritora brasileira, encontrou algumas definições que extrapolam as explicações encontradas nos dicionários.

"Certeza é quando a ideia cansa de procurar e para". 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Quase - Sarah Westphal



"Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, 
nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão 
do papel por essa maldita mania de viver no outono".

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.

É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

(O texto já foi atribuído a Luís Fernando Veríssimo. Em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo, ele mesmo diz ser o texto de autoria de Sarah Westphal Batista da Silva).

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Roda da Fortuna



“Creio que quase sempre é
preciso um golpe de loucura para se construir um destino”.
 (Marguerite Yourcenar)

No livro Os sete pilares da sabedoria, cito ele mais uma vez, é dito a Lawrence: “Para alguns homens na está escrito a menos que eles escrevam...” Já utilizei esta frase em meus textos. O leitor mais assíduo deverá reconhecê-la. Na verdade, não apenas em meus textos. Está em minha essência.
A frase é proferida à Lawrence quando ele recusa-se a aceitar o que os árabes chamam de Maktub. Está escrito. Não penso ser necessário recorrer à Roda da Fortuna e às três irmãs Moiras da mitologia grega para conhecer nosso destino.
Acreditar em uma sucessão de acontecimentos relacionados a uma determinada ordem cósmica, da qual nada pode fugir, não muda, absolutamente, nossas decisões. Pelo menos, não deveria. O perigo está em utilizar essa crença como quintessência de nossos atos. Nessa, estou com Aristóteles: "O que está além de nossa experiência sensível não pode ser nada para nós".
Espere. Não estou dizendo que não acredito. Também não falei que sim. Minhas crenças pouco importam. Na verdade, pouco importa também se o destino existe ou não. A pergunta é: Se o destino existe e você acredita nele, deverá cruzar os braços? Como sempre, vou citar Miller: “O destino de alguém não é nunca um lugar, mas uma nova forma de olhar as coisas”. Maktub.