terça-feira, 30 de agosto de 2011

Olha enquanto podes


Um estrangeiro muito rico e um português muito pobre tinham cada um o seu filho. O estrangeiro muito rico levou o filho ao ponto mais alto da Serra da Estrela e mostrou-lhe com um gesto a portentosa paisagem em redor e disse-lhe:
- Olha, um dia todo este país será teu. Eu vou comprá-lo amanhã ao preço de lixo.
O português muito pobre, levou o filho ao cimo da mesma serra, mostrou-lhe a paisagem em redor e disse-lhe, simplesmente:

- Olha. – Enquanto podes!


(inspirado numa fábula do Oriente – Texto retirado do blog Pó dos Livros)

domingo, 28 de agosto de 2011

Um ano bíblico - A. J. Jacobs


"Aprendi que, se você finge ser uma pessoa
melhor, acaba, de fato, se tornando uma pessoa melhor".


O Ano em que Vivemos Biblicamente (The Year of Living Biblically). Livro do jornalista americano A.J. Jacobs. A matéria, assinada por Roberto Kaz, saiu na Folha de São Paulo do dia 27/08/2011. (Clique AQUI e veja o vídeo).

No dia 7 de julho de 2005, o jornalista norte-americano A.J. Jacobs --um agnóstico - resolveu seguir a Bíblia com o máximo rigor, empreitada que se estenderia por um ano. De pronto, percebeu que "Não cobiçarás", o décimo dos mandamentos, era quase impraticável em uma cidade consumista como Nova York, onde mora.
Às 14h daquele dia, anotou que já havia cobiçado "o valor que o escritor Jonathan Safran Froer recebe para falar em público; o Palm Top Treo 700; a paz espiritual do cara da loja de Bíblias; a fama de George Clooney".
Perplexo, Jacobs lembrou que o versículo ainda mandava não cobiçar "a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo". Concluiu que "o boi e o jumento não eram um problema para a Manhattan pós-agrária de Nova York". Todo o resto era.
Essas e outras impressões estão relatadas em "Um Ano Bíblico", obra recém-traduzida pela Agir, em que Jacobs, 43, relata a experiência de ter vivido 365 dias de acordo com os preceitos do livro sagrado.
As restrições incluíam não fazer a barba, não blasfemar e não encostar em nenhuma mulher menstruada.
No tocante aos deveres, precisou apedrejar um adúltero (usou pedrinhas pequenas) e pastorear uma ovelha (alugou de um escritório que fornece animais para ensaios fotográficos).
Ao final, disse ter evoluído. "Aprendi que, se você finge ser uma pessoa melhor, acaba, de fato, se tornando uma pessoa melhor", contou à Folha, por telefone.
Jacobs já estava habituado a viver de forma obsessiva. Três anos antes, publicara o livro "The Know-it-All" (o sabe-tudo), em que lera, de cabo a rabo, os 32 volumes da "Enciclopédia Britânica".
Não se habituara, no entanto, a seguir tamanho número de regras (listou cerca de 700 obrigações). "O cuidado com a pureza feminina foi o mais complicado", contou. "A Bíblia diz que você não pode se sentar em um lugar ocupado recentemente por uma mulher menstruada." Logo, durante uma semana por mês, ele se recusava a dividir o assento com sua mulher, Julie. "Ela ficou tão irritada que passou a se sentar em todas as cadeiras de casa, para se vingar. Eu era obrigado a ficar no chão", lembra.
Para evitar a cobiça, pediu a Julie que recortasse os anúncios dos jornais. "Mas se você tira o anúncio, não sobra nada. Nova York foi feita para cobiçar", concluiu.
Editor da "Esquire", prestigiosa revista mensal americana, Jacobs também enfrentou problemas no trabalho. Habituado a escrever sobre celebridades, viu-se obrigado a entrevistar Rosario Dawson, atriz estonteante que atuou no filme "Sin City". O texto, publicado em abril de 2006, começava assim: "Senhor, perdoe-me pela noite com Rosario Dawson. Perdoe-me pela conversa sobre camisinhas estouradas. Perdoe-me por cometer adultério no coração". Por telefone, ele resumiu: "Foi horrível, muito tentador, e ela tinha uma boca muito suja".
Passada a publicação do livro nos Estados Unidos, Jacobs voltou a fazer a barba ("para que minha mulher não pedisse o divórcio"), mas diz ter mantido certos hábitos tirados da Bíblia. Procura não mentir, respeita o dia do descanso e tenta ser grato às boas coisas que lhe acontecem no dia a dia. "Um Ano Bíblico" foi vertido para 15 línguas. Indagado se ansiava por mais traduções, o autor respondeu: "Sim, mas não podia querer tanto, para evitar a cobiça". Enfatizou ter doado 10% do lucro obtido com a primeira edição a uma instituição de caridade. Das seguintes, só 7%. "Dez era demais", concluiu.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A águia e a galinha - Leonardo Boff



Antes, vale a pena ler um pouco sobre o autor: Leonardo Boff


A ÁGUIA E A GALINHA

Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista.
Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: - Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia. - De fato - disse o camponês - É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não - retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas. - Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: - Já que você de fato é uma águia, e pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: - Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! - Não - tornou a insistir o naturalista . Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou dizer: - Eu lhe havia dito, ela virou galinha! - Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é uma águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, e pertence ao céu e não a terra abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse uma nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...
“Encontramos pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. Muitos pensam que efetivamente são galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, abramos as asas e voemos. Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.” A escolha é nossa!

domingo, 21 de agosto de 2011

Parte 26 – Vigésimo sexto contato

Minha memória engana-me facilmente. Sempre. Se dessa vez, se eu estiver certo, os dias por aí não são mais tão negros. Hoje, lembro-me do sentimento que você está experimentando e tento encontrá-lo perdido de alguma maneira. Li certa vez que nada há de novo debaixo do sol. Acreditando ser verdade, tento fazer parecer mais fácil tudo por aqui. São sentimentos; de uma maneira ou de outra já os vivenciei antes. Às vezes a melhor forma de encontrar respostas não é através de perguntas. A ideia de escrever-lhe era poder ajudar você. Tenho a sensação que tenho fracassado. Não sei. A verdade é: nunca teremos todas as respostas. Eu não tenho. Depois de muitos anos, acreditava que se fosse possível voltar no tempo, corrigiríamos todos os nossos erros. O problema não é mudar os erros. É reconhecê-los. Ao mudar uma coisa ruim, podemos perder outra boa. Não quero perder nada. Quero ganhar. Ingênuo? Talvez. Dizem que ser ingênuo é ser excessivamente crédulo. Ótimo. Eu acredito. Acredito nas pessoas. Pelo menos, naquelas que amo. E, não serei eu o errado. Não por isso. Hoje, sou assim. Sempre fui? Diga-me você. Cada um assuma suas culpas. Eu tenho muitas. Sofrer? Quem não vai? Melhor não pensar nisso. Não agora. Como falei, as mudanças podem ser perigosas. Não pensei nisso quando comecei escrever estas linhas. Talvez, este pensamento, teria me feito recuar. Talvez não. Recuar não faz parte da nossa personalidade. Nunca fez. Sim, da nossa. Recuar é andar para trás. Retroceder. Ceder. Hesitar. Não prosseguir. Não! Não somos nós. Ainda bem. O fato é: não sei qual rumo dar a estas cartas. Não sei como ajudá-lo. Ou sei. Apenas, não posso. Não precisa de ajuda. Lembre apenas: pensar no futuro é realizar no presente. Nada acontece no futuro. Acontece... (Scorpions: Dust in the wind.)
UM GRANDE ABRAÇO.

sábado, 20 de agosto de 2011

Auberge du Soleil

Holy Hugues viajou o mundo todo como uma redatora e escritora. “Entre os 500 lugares sobre os quais escrevi nestas páginas você encontrará vários que farão a sua próxima viagem inesquecível - e talvez alguns que vão iluminar os sabe-tudo.”

AUBERGE DU SOLEIL
Napa Valley, Califórnia


O nome significa “Pousada do sol”, e quando esse restaurante inspirado na região de Provence abriu, nesse pequeno bosque de olivas do Napa Valley, em 1981, foi um sucesso imediato. Em 1985, a pousada acrescentou acomodações de luxo em uma série de pequenas edificações geminadas ao longo da descida do morro. Todos apartamentos têm uma vista para o vale, para os jardins da pousada ou para o arvoredo de olivas na montanha(...). O chef atual do restaurante, Robert Curry, tem todas as credenciais corretas da Califórnia. Como seria de se esperar, a carta de vinhos é excepcional – eles afirmam ser a mais extensa do vale – e as combinações de vinho são um ponto de foco do menu de degustação numa sequência de seis pratos. Para se manter atualizado, o restaurante do Auberge persegue a produção local com sua própria horta de verduras e temperos no quintal da cozinha. E nada mais justo, porque entrar em contato com a terra – ou talvez devêssemos dizer com o terroir – é o objetivo do Auberge Du Soleil.

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180 Rhuterford Hill Rd. Rhuterford Fone: 800/348-5406, www.aubergedusoleil.com



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Este é o amor que eu quero para minha vida!


"Eu admiro aqueles que conseguem sorrir com os problemas, reunir forças na angústia, e ganhar coragem na reflexão. É coisa de pequenas mentes encolher-se, mas aquele cujo coração é firme, e cuja consciência aprova sua conduta, perseguirá seus princípios até a morte". (Thomas Paine)

Ouvi a seguinte história: Um homem muito idoso entrou em uma clínica. Tinha um ferimento na mão e dizia estar muito apressado. Queria que fizessem logo o curativo. Estava atrasado para um compromisso importante.
O jovem médico , enquanto o tratava, perguntou o motivo de tanta pressa. O senhor olhou por um tempo para ele e disse: “Preciso ir ao hospital. Vou tomar café da manhã com minha mulher, ela está internada lá há muito tempo”. O médico quis saber o motivo da internação. O homem respondeu: “Ela sofre de Alzheimer em estágio bastante avançado...” Terminando o curativo, o jovem perguntou se ela saberia que ele estava atrasado. “Não, ela não vai saber. Nem mesmo sabe quem sou. Já faz cinco anos que ela nem me reconhece”.
Ainda curioso, o jovem médico pergunta: “Mas se ela nem sabe quem o senhor é, porque está tão apressado??” O velho senhor olhou novamente para o médico. Deu um leve sorriso e disse: “Faço isso todas as manhãs”. Dando uma palmadinha na mão do médico continuou: ”Ela não sabe quem eu sou, mas eu sei muito bem quem ela é”. E saiu apressado...

O amor verdadeiro é a aceitação de tudo o que o outro é, de tudo o que o outro foi, do que será, do que já não é...

(Texto adaptado - Autor desconhecido)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


"Atenção: se você sair do cinema alegre ou se achando o melhor biscoito do pacote, melhor repensar sua própria vida. E se não sair assim, vale a pena refletir também sobre como você anda tratando seus objetivos, prioridades, pessoas queridas, sobre o que você realmente quer “carregar em sua mochila..."
(Tommy Beresford – Cinemagia)



Ver um bom filme tem sido algo raro. Culpa minha. Assumo minha chatice. Acreditava que o filme Amor sem escalas (Up in the Air) seria apenas mais uma comédia romântica. Estava enganado. Baseado no livro de Walter Kirn, o filme é muito mais do que isso. Fiquei surpreso com o filme. Primeiro por tratar de um assunto que gosto muito: o comportamento humano. Segundo pela boa direção de Jason Reiman. Ah! Claro, a música... Sempre a música! Não farei uma resenha. Se quiser saber mais sobre a trama, recomendo ler a crítica do site Cinemagia. Como escreveu Marcelo Forlani “Pode até não ser o filme da sua vida, mas é um filme que certamente vai te fazer parar e pensar no que você está fazendo com sua vida”. Foi exatamente o que fiz...

domingo, 14 de agosto de 2011

Nossos modelos...


Uma vez escrevi um texto nestas reminiscências. Em resposta, recebi este texto do meu pai. Ele começou dizendo: “Faço minha as palavras de um tal Luiz Roberto”. Este é o meu pai. Em cada linha. Também é o pai que eu gostaria de ser. Acredito ser a única maneira de um dia, meus filhos também tornarem-se esta pessoa. São nossos modelos...

Se eu pudesse

Seria um anjo para te proteger

Seria a luz para iluminar seu caminho

Seria um sonho lindo para acalentar seu sono

Seria uma canção para alegrar seu coração

Se eu pudesse...


Seria a água que mata sua sede

Seria o sol que te aquece

Seria o sangue que corre dentro de ti

Seria o ar que você respira

Se eu pudesse...

Sentiria sua dor, para você não sofrer

Choraria por você, para não te ver triste

Daria minha vida pela sua.


Se eu pudesse...


Mas não posso...
Sou um simples mortal, sem nenhum poder.
Mas uma coisa posso...
Te dar todo o meu amor

É seu...


TE AMO MEU FILHO

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Diga o que você precisa dizer... (Say - John Mayer)

Reticências. Três pontos. Do latim: reticere (calar alguma coisa). Indica pensamento ou idéia que ficou por terminar. Omissão de algo que podia ser escrito. Mas não foi. Reticências.
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Apenas mais um vídeo. Apenas mais uma música. Alguns dias acordamos e não é apenas mais um dia... Não importa. Mais uma vez. A música diz: “Caminhando como um exército de um homem só. Lutando contra as sombras em sua mente. Vivendo o mesmo velho momento. Sabendo que você estaria em melhores condições se quisesse. Se você pudesse apenas...”. E então, no meio de tudo, eu percebi...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Saudades do futuro


Entrelinha poderia ser definida como o espaço entre duas linhas. Simples. Mas nada é simples. O sentido implícito. O que não foi escrito ou falado. Então, interpretamos. E, tratando-se de interpretação, cada um tem a sua. Assim, encontre-se na entrelinhas...

Qualquer dia ele chega sem ao menos avisar ou talvez não venha ate aqui,onde os homens “respiram e aspiram por um tempo melhor”, inventando a cada dia, um compromisso onde o relevante se torna omisso. As raízes da memória, o sacrifício de um novo tempo, Mas mesmo assim, serei assim.... Querendo algo que traga saudade, que expresse futuro. Suportando a tudo na simplicidade da espera, na força de um ato qualquer. Só não serei o mesmo, a esperar na fila da seqüência do tempo. E se um dia por aqui chegar, talvez nem saiba se realmente foi ele quem chegou. Pois ate lá minha saudade já se foi, e tudo... tudo voltará a ser novamente o presente.

Romir Fontoura (Ritos e escritos)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Entre sonhos e certezas...


Todos nós temos um lado obscuro. Do avesso. Aceitemos ou não. Nossa antítese. Amigos leitores, não se assustem. Apresento “A antítese” destas reminiscências. Nem tanto nas ideias, mas, principalmente na forma. Na maneira de escrever. Um pouco. Prometo. Só um pouco do meu lado obscuro...
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Li um dia destes que "O segundo sintoma da morte de nossos sonhos são as nossas certezas...” Importa o primeiro? Duvido. O que realmente importa são nossas certezas. Não quero nada vazio. Nada de copo meio cheio. Que ele transborde. Estou errado? Dane-se. Quem falar o contrário está mentindo. Ou, não sabe de nada. O ser humano é assim: acredita nas próprias mentiras. Ao inferno com as mentiras. Provem que estou errado. Um palavrão bem grande. Escolha o de sua preferência. É feio? Dane-se também. Que me julguem pelo que sou. Sim, o ser humano também julga. Outro de seus arroubos. É muito fácil quando não somos nós a sentir na pele. Quando nossas entranhas não estão sendo esmagadas por todos os tipos de sentimentos. Somos então o idiota. O parvo da vez. Uma coisa é o discurso; outra são os fatos. Quero fatos. Quero o que é concreto. Quero ter a certeza de não ter deixado nada para trás. Faço o mesmo; ou se puder, conviva com as consequências. Eu não posso...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tênis x Frescobol - Por Rubem Alves


"O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento.
Aqui, quem ganha sempre perde."

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir… E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos…
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá…
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão… O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor… Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim…