quinta-feira, 3 de julho de 2014

Sei de alguém que se perdeu no caminho... (Gooldemberg Saraiva)


Sei de alguém que se perdeu no caminho e que acreditou em suas escolhas. Que não olhou para longe e, assim, deixou de ver a luz desses olhos e a vivacidade desse sorriso, injusta e caprichosamente escondidos nestes dias.

Conheço alguém que se iludiu com a falsa sabedoria da juventude e com a inebriante loucura das primeiras paixões. Sei de alguém que é prisioneiro das primeiras decisões. Que não soube conter-se. Que abraçou gostosamente o que achou e que soube, em parte, e por natureza das coisas, ser verdadeiro. Que fez tudo por amor.

Conheço alguém que acredita na vida. Na beleza da respiração e na perfeita sincronia do caos. Sei de alguém que torce pelo certo. Que se apega dolorosamente a um profundo conceito de lealdade.

Sei desse homem que simplesmente não sabia. Que não lhe esperava. Que não podia saber. E ele ora pelo que é certo e pede sempre uma cura para um coração afetado pela imagem de tantas fotografias.

Sei de alguém que não se duplica, mas reconhece e aceita o poder misterioso das profundezas humanas; e que se deixa saber que deseja, e que se diz não, com força e sobremaneira.

Sei de alguém que fala assim, misteriosamente, e que chora por não ter o direito de com simplicidade sobre todo o seu amor falar. E que se contenta com as artimanhas da vida, que se lhe fez uma, duas vezes pode tentar.

Sei de alguém. Conheço-o tão bem que lhe sinto as dores.


(Gooldemberg Saraiva)