Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes apenas um segundo.
(Lewis Carroll)
Temos várias razões para escrever. Certamente o mesmo
número para não fazê-lo. Sempre fui admirador de Machado de Assis. Quem, em sã
consciência, não é? Perdoe-me, se não for o seu caso. Por isso disse em sã consciência.
Enfim. Aproprio-me “Das Negativas” de Memórias Póstumas para explicar melhor:
Brás Cubas chega ao final, do outro lado do mistério como ele mesmo diz,
afirmando que “Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não
houve míngua nem sobra...”.
Sempre admirei
nosso Poeta Maior por escrever essa obra sobre nada. Calma. Não é nenhuma
heresia. Você precisa concordar que a vida de Brás Cubas não é diferente de
qualquer cidadão comum. Quem quer ler a respeito de uma vida comum? E essa é, para mim, a genialidade da história.
O que seria um motivo para não escrever, foi exatamente a razão para fazê-lo.
Então, acabo por utilizar de uma maneira um tanto
confusa para explicar minha ausência por aqui. E da mesma maneira esclarecer
que tento agora fazer das minhas negativas as minhas afirmações. E assim,
escrevo.
E escrever, nesse momento, me dá a sensação que ficarei
entre algum ponto entre o efêmero e o eterno. Não que seja minha intenção.
Falar em efêmero nos remete ao que é passageiro, que dura pouco tempo. Que é
transitório. Que assim seja! Amém. Mas pense em sua própria vida: nesse exato
momento, ela se parece efêmera para você? Eu sei, nenhum pouco. Talvez um dia.
E é aí que nos aproximamos da ideia do eterno. E será que poderemos afirmar, assim
como Brás Cubas, que sairemos quites com a vida? Não sei para você, mas para
mim só resta esperar que o efêmero se torne eterno. E que ao final eu não tenha
um capítulo de negativas, mas de afirmações...