
“(...) falavam das regiões secretas pelas quais pouco ou nada ansiavam e para onde, não obstante, o incompreensível vento do destino poderia, ainda que apenas em sonho, arrastá-los. Afinal, por mais que pertencessem um ao outro no que sentiam e pensavam, sabiam que, não pela primeira vez, um hálito de aventura, liberdade e perigo os tocara na noite anterior, temerosos, atormentando-se em curiosidade silente, buscavam arrancar confissões um do outro, e, aproximando-se amedrontados, procuravam em si próprios por algum fato, indiferente que fosse, por alguma experiência, ainda que sem importância, que pudesse dar expressão ao inexprimível, e cuja sincera confissão por ventura os libertasse de uma tensão e uma desconfiança que, pouco a pouco, começava a fazer-se insuportável (...)”
Sempre estranhei o fato das pessoas, em sua maioria, se interessarem apenas pelos lançamentos de livros. Desta maneira, muitos livros acabam esquecidos. Breve romance de sonho foi escrito pelo austríaco Arthur Schnitzler em 1926. Poderia estar ultrapassado. Não está. Ao contrário; parece-me, ainda hoje, mais atual. O livro, como poucos, escancara e abala os alicerces e estruturas da vida conjulgal e familiar de um casal. Fridolin e Albertine. Foi na obra prima de Schnitzler que o cineasta Stanley Kubrick baseou-se para criar seu último filme: De olhos bem fechados, com Tom Cruise e Nicole Kidman.






