sábado, 30 de março de 2013

O marajá e a colher de azeite



"Uma vida sem amor, não importa quantas outras coisas tenhamos, é uma vida vazia e sem sentido..."
(Leo Buscaglia)

Era uma vez um jovem que foi até o palácio de um marajá, na época em que os marajás eram os sábios, e perguntou a ele qual a fórmula para ser feliz e rico igual a ele. O marajá, em vez de responder, propôs um desafio ao jovem:
- Vou encher uma colher com azeite e você vai percorrer todos os cantos deste palácio, mas não deixe derramar uma gota de azeite sequer.
O jovem saiu então com a colher na mão, andando com passos pequenos, olhando fixamente para a colher e segurando com tanta força que ficou cansado. Ao voltar, orgulhoso por ter conseguido, mostra a colher ao marajá, que pergunta se ele viu os belíssimos quadros que estão nas paredes do palácio, se ele viu os jardins e as piscinas maravilhosas que estavam pelo caminho. Sem entender muito o porquê disso tudo, o jovem respondeu que não, e o marajá disse:
- Dessa forma você nunca encontrará a sabedoria. Vivendo só para cumprir suas obrigações, sem usufruir as maravilhas do mundo, você nunca será um sábio.
Em seguida, pediu para o jovem repetir a tarefa, mas que desta vez observasse tudo pelo caminho. E lá foi o rapaz com a colher na mão, olhando e se encantando com tudo. Esqueceu-se da colher e passou a observar os quadros, os jardins, os pássaros. Ao voltar, o marajá pergunta se ele viu tudo e o jovem, extasiado, diz que sim. O marajá pede que ele mostre a colher e o jovem percebe que derramou todo o conteúdo pelo caminho. E o marajá diz:
- A felicidade é conseguir aproveitar as maravilhas do mundo mas sem deixar o azeite cair da colher...

domingo, 24 de março de 2013

Ah Sherlock... Sherlock...



Sou um Sherlockiano. Pode parecer bobo, mas assumo esta condição. Sherlock Holmes foi qualificado como uma das três personalidades mais conhecidas do mundo. “Ele é a personificação de algo em nós que perdemos ou nunca tivemos.” (Edgard W. Smith). Este espaço destina-se, portanto, para alguns pensamentos, retirados do cânone, do famoso detetive.
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"Eu disse faça valer a pena. 
Quantas oportunidades preciso lhe dar?"

sábado, 16 de março de 2013

É proibido - Pablo Neruda


Entrelinha poderia ser definida como o espaço entre duas linhas. Simples. Mas nada é simples. O sentido implícito. O que não foi escrito ou falado. Então, interpretamos. E, tratando-se de interpretação, cada um tem a sua. Assim, encontre-se nas entrelinhas...
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É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.

É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.

É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
ão saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.

É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

(Pablo Neruda)

domingo, 10 de março de 2013

10 de março



(...) Homenagem não traz ninguém da volta, mas talvez ajudem a nós, os que ficamos, a curtir mais, e melhor, o que temos por perto, em lampejos de silêncio e contemplação (ato heroico na correria destes tempos loucos e fascinantes, mas a gente consegue). A morte, intrusa indesejada, sobre a qual tanto se fala, se pensa, se escreve, foi personagem de algum de meus livros e causa de algumas incuráveis dores. Ela não pede licença: sem bater, escancara num repelão porta ou janela, entra num salto, com suas vestes cheirado a mofo e seus olhos de gato no escuro. Às vezes pega quem mais amamos. E aí não tem remédio, não tem descanso, não tem nada, senão a dor – apesar da nossa natural dificuldade de lidar com ela, a dor é necessária nesses primeiros tempos. É preciso chegar ao fundo do poço escuro para pode sair dele, ou ao menos ter a cabeça à tona d’água. Presenças bondosas, conforto de alguma palavra amiga, saber que os outros estão aí, que ajudam também nas coisas práticas, nos fazem sobreviver. Mas não queiram que a gente não sofra, mesmo nessa nossa cultura do barulho e da agitação, em que no segundo dia já querem que a gente passe o batom e saia às compras. Não por maldade, mas por essa aflição que nos ataca diante do sofrimento alheio, em parte porque ele é uma ameaça à nossa vidinha bem-posta: seremos os próximos?
Mas quero homenagear um amigo querido meu, de meu marido, de minha família, que morreu há poucos dias. O nome não importa, quem o conheceu saberá. Sua idade não importa, a tristeza é sempre a mesma. Qual seria a hora certa para morrer? Minha mãe morreu aos 90 anos, há quase dez ausente deste nosso mundo, arrebatada pelo cruel Alzheimer. Fazia anos que nem me reconhecia, mas também foi duro: de repente, eu não tinha mais a quem pudesse chamar de “mãe”, e nem senti extraordinariamente órfã.
Então, na pessoa desse amigo, homenageio aqui a todos os que se foram – embora eu acredite que permaneçam, não importa como, em forma de alma, energia ou memória, o que já seria muito bom: de memórias positivas, que nos iluminem, nos emocionem ou nos façam sorrir, estamos precisados. E homenageio aqui, também, a todos nós que ficamos com a singular tarefa de preservar, no coração e no pensamento, esses que aparentemente perdemos, e de aos poucos retomar a vida – como os mortos gostariam que a gente fizesse. Pois igualmente acredito, com firmeza, que é melhor deixar que os mortos morram (quem viveu isso entende) No começo do luto “tudo é horrível”, dizia uma velha amiga, que havia muitos anos tinha perdido um filho, “mas com o tempo dói menos”.
E afinal a vida chama, ainda que no início isso nos pareça um insulto. Pois honrando a vida também estamos honrando os nosso mortos, que, na nossa lembrança não mais crispada, na nossa melancolia não mais indignada, na integração de seus atos e palavras em nós, no que temos de melhor, continuarão vivos. Em última análise, apesar de todo o dilaceramento, solidão e lágrimas, a morte (que não é fim, mas transformação), estranhamente, loucamente, tem um poderio limitado: seu dedo cruel e ossudo não consegue encontrar a tecla com que deletar nosso melhores afetos. (LYA LUFT)

domingo, 3 de março de 2013

Fauja Singh




“O que verdadeiramente somos 
é aquilo que o impossível cria em nós”. (Clarice Lispector)

Reza a lenda que no ano de 490 a. C., Filípedes, soldado grego liderado pelo general Milcíades, foi enviado à Atenas para levar a notícia da vitória contra os persas às esposas dos soldados atenienses. Após percorrer cerca dos 42 km que separavam as planícies de Marathónas a Atenas, o jovem soldado, extenuado, conseguiu ao chegar, dizer apenas “vencemos” e então caiu morto.

Cerca de 25 séculos depois do feito de Filípedes, uma multidão de jornalistas, familiares, amigos e simpatizantes estavam aguardando Fauja Singh. O homem de cem anos que entrou para a história da maratona após 8 horas, como o homem mais velho do mundo a completar uma prova de 42km. Sim! Cem anos!
Após perder as duas pessoas que mais amava, decidiu viver com o seu outro filho, que vivia no Reino Unido. Sua vida mudou. Para combater a depressão e o isolamento num país onde não conhecia nada, nem ninguém, Fauja começou a correr. E quis o destino que, acidentalmente, cruzasse com um antigo campeão olímpico que decidiu treiná-lo. Após o feito, indagado sobre como conseguia correr com essa idade, Singh disse: “Dou um passo de cada vez”.
Diz os textos judaicos: “O milagre não prova o impossível; serve, apenas, como confirmação do que é possível”. Talvez aí se encontre a grande lição de Fauja Singh. Para dar um passo de cada vez, é preciso dar o primeiro passo. Iniciativa, ousadia, coragem, decisão. Atitude. No filme Compramos um zoológico, baseado nas memórias de Benjamin Mee, escutei a seguinte frase: “Sabe, às vezes tudo que você precisa é de vinte segundos de coragem extrema. Sério, vinte segundos de bravura vergonhosa. E eu te juro que algo ótimo vai acontecer”.
Victor Hugo tinha razão, “Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável”. Mova-se!