Eu doido pra criar fama, fui pra o Rio de Janeiro, passei lá cinco semanas trabalhando de pedreiro, voltei com um palavreado, com um chiadeiro danado – Cara, Meu, Qual é a sua, Corta essa meu irmão, Fica frio aí negão, vou dar um “ taime “ na rua.
Quando eu chegava no sítio, o povo todo corria, como ele fala bonito era o que as “muié “ dizia, na casa adonde eu morava, o povo todo se ajuntava pra mode ver eu falar, e toda festa que tinha, não tendo a presença minha, ninguém queria ficar. Casamento, batizado, vaquejada, cantoria, missa , novena e reisado se eu não fosse, ninguém ia.
Certa vez lá na rajada tinha uma missa marcada, mas o padre adoeceu e o diabo do sacristão inventou a invenção de se alembrar logo de eu. Me chamou assim num canto e começou a cochichar , ele foi logo dizendo, garante que você sabe rezar, mas tá faltando a batina, vamos lá em Severina, pra ver o que agente faz , e me deu um vestidão frouxo só porque era meio roxo , disse assim, tá bom de mais.
Quando vesti o vestido, a outra roupa tirei, fiquei meio desprevenido mais na hora nem notei, que o bicho era meio fino e assim mesmo fui saindo em precura da capela, quando cheguei no altar, que comecei a rezar, foi a maior esparrela. O povo todo estranharo quando eu subi no altar, umas véia cochicharam e outras pegaram a mangar, e Chica de Carabina quando viu minha batina comentou com Bastiana, Deus me perdoe se quiser, mais é a cópia fié da camisola de Joana.
E eu tô lá no altar de batina transparente, continuei a rezar, toquei a missa pra frente, pra acabar de completar, na hora que eu fui pegar a bíblia não encontrei, e pra evitar a demora, uns livros véi de escola, que tinha assim eu peguei. Abri os livro e fui lendo uma perguntas que tinha, e as muié respondendo em forma de ladainha –
- Onde que tá o feijão?
- E as muié, no caldeirão.
- E o arroz?
- Tá na cantina.
- E a lingüiça tá no cordão?
- E as muié disseram, não tá de baixo da batina.
Eu ia me encabulando, mais disfarcei e segui lendo, continuei perguntando e as muié respondendo. Eu só me incabulei, na hora que perguntei, confesso que sem malícia,
- E os Coco, tá no pé?
- E as muié disseram é, tá no pezinho da lingüiça.
Fiquei todo encabulado, perdi da missa o roteiro, lembrei do palavreado lá do Rio de Janeiro, peguei a falar bonito, mais fui cantar um bendito, errei e cantei um samba, mais óia eu só me lasquei, na hora que eu chamei Jesus Cristo de caramba. Me cobriram na porrada entrou até a polícia, acertaram uma paulada mermo em riba da lingüiça, fiquei todo arrebentado, uns cinco dente quebrado, foi primeira sem Segunda, me soltaram sem demora, saí estrada a fora, que os pés batiam na bunda.
Foi uma surra da gota, porém serviu de lição, com medo de levar outra, não ando mais no sertão, chiando ou cantando samba, e ao invés de dizer caramba agora só digo oxente , e só converso arizia , pruqê, prumode, pruvia que é a língua da gente.
Amazan – Campina Grande - PB
Poema recontado por Alexandre Rocha Sales
Professor de Educação Física e Pesquisador em Cultura Popular