quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Máquinas do tempo

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros” (Clarice Lispector)

Uma foto pode contar muitas histórias. Pode trazer muitas recordações. Uma foto é muito mais que um simples retrato. Utilizo apenas o detalhe de uma fotografia. Ela está na parede da sala na casa de meu pai. Poucas pessoas têm o privilégio de ter tanta história em apenas uma parede. Meu pai é um privilegiado. Não porque teve sorte. A sorte não tem nada a ver com isso. Pelo menos, não neste caso. É um privilegiado por sua sensibilidade e pelo amor à sua família. Claro, quando vemos os quadros e as fotos que ali se encontram tudo parece muito simples e óbvio. Quem não guardaria tais relíquias? Mas a verdade não é bem assim. Muitas vezes nos desfazemos das coisas muito antes de darmos tempo a elas para contar qualquer história. Antes mesmo que possam adquirir algum significado em nossas vidas. Vejo na foto um quadro pintado por meu avô. A tela é de 1923. Pois é, 1923! Meu avô era apenas um garoto. Mas que talento ele tinha. Que ser humano ele era. Quem o conheceu, tenho certeza, agora mesmo está concordando comigo. Cresci com a imagem daquele quadro. Não só eu como meus irmãos, primas e primos. Se estiverem lendo, também lembrarão de muitas imagens daquela época... É, sei o que estarão sentindo. Todo mundo possui guardada, com muito carinho, uma lembrança igual a essa. Há ainda, nesta parede, um quadro de palhaço. Foi meu pai quem pintou. Em 1977 e eu tinha apenas cinco anos. Se não me engano, este foi o primeiro. Pelo menos em minha lembrança de criança. E ficará fácil entender as memórias que guardo com ele. O mesmo vale para o outro palhaço. Meu pai, o maior contador de histórias que conheço, ao ler este texto terá também muitas histórias para contar. As fotos que ali estão servem de exemplo. São de minha família paterna. Sei que em uma delas está, junto com toda a família, minha bisavó Angelina grávida da tia Nunu. Isso em 1917. Dá para imaginar quanta história estas fotos podem nos contar?
Jeremy Irons, ator brilhante, disse que "Todos nós temos nossas máquinas de tempo. Algumas nos levam de volta, elas são chamadas recordações. Algumas nos levam adiante, elas são chamadas sonhos." Já não sei se tenho viajado mais ao passado ou ao futuro. Minhas recordações também me fazem seguir adiante. São os exemplos de pessoas que pretendo seguir e um dia, quem sabe, ser igual a elas.

2 comentários:

Meu tempo disse...

Ora, meu filho!!
Fiquei muito emocionado ao ler sua crônica. Por exemplo: Uma mulher coloca com todo o carinho um colar de pérolas legítimas para ir a uma festa. É o seu desejo, muito mais que embelezá-la, que alguém a note e se faça elogios. É uma realização completa de vaidade de qualquer ser humano. Agora, não ser notada é extremamente frustrante, mas pior é alguém confundir aquele colar de pérolas com uma simples bijuteria barata. Você foi o primeiro que notou, elogiou e não confundiu as minhas jóias que guardo com tanto carinho. Elas não têm preço, são únicas... e são minhas.

Anônimo disse...

Nossa sem palavras, fiquei emocionada como o seu pai escreveu no comentário. Ainda mais eu que amo fotos, é simplesmente a identidade tanto nossa como da nossa história.
:D
Ps.: Esta show a nova cara do blog.
JUly