segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Papai Noel no século XXI


"O Natal é um tempo de benevolência, perdão,
generosidade e alegria. A única época que conheço,
no calendário do ano, em que homens e mulheres parecem,
de comum acordo, abrir livremente seus corações."
( Charles Dickens )



Não quero parecer inocente. Acreditar cegamente no espírito natalino seria ignorar o que realmente acontece. Escreverei a partir do ponto de vista de uma criança. Estas sim são inocentes. Ou quase. Ainda bem. O natal, para qualquer garoto, sempre foi uma época mágica. Não só pelos presentes. Também por eles, claro. A família reunida, para uma criança, é um momento de alegria. Ela ainda não tem idade para entender o mundo dos adultos. As brigas, as diferenças e tudo que é varrido para debaixo do tapete na noite de natal não é percebido ou sentido pelas crianças no natal. Pelo menos, não no natal. Poucas pessoas ainda lembram-se, hoje em dia, da verdadeira razão do natal.
Mas não é sobre isso que quero falar. O que realmente quero falar é sobre o papai Noel. Sim, o simpático velhinho. Na verdade, o natal perdeu muito sentido para mim quando descobri que ele não existia. Gostaria de acreditar nele até hoje. Um dia destes, pensando em seu presente, meu filho me perguntou: “Pai, o papai Noel trás o brinquedo que a gente quiser?” Ao ouvir a pergunta acendeu-me a luz vermelha. Era necessário muito cuidado com a resposta. O raciocínio dele está correto. É só escrever a cartinha e ho ho ho... Usei todos os meus argumentos para tentar explicar que não era bem assim. Depende do preço do presente e coisa tal. Ainda criança, aprendi que o papai Noel morava no pólo Norte e no dia de natal ele montava em seu trenó puxado pelas renas e de casa em casa distribuía os presentes. Não sei, mas alguma coisa aconteceu desde então. O bom velhinho deve estar pagando aluguel, o trenó deve utilizar gasolina, aquela roupa vermelha é de alguma grife famosa, não sei; enfim, o custo de vida do velho Noel deve ter aumentado e muito. Andando no shopping um dia destes e lá estava ele. Sentado, em sua cadeira, aguardava as criançinhas que faziam fila para tirar uma foto em seu colo acolhedor. Meu filho, ao vê-lo, logo falou: “Olha o papai Noel, quero ir lá”. Claro, como poderia ser diferente? Nas últimas semanas não falou em outra coisa. Escreveu até a famosa cartinha. Quando nos aproximamos, vi que havia uma corda de isolamento e a placa que anunciava: Uma foto quinze Reais. Duas fotos vinte e cinco Reais. Mais uma vez precisei usar todos os meus argumentos para tentar explicar que não seria possível ver o velhinho. Será que devia dizer logo que papai Noel não existe? Como falei, não quero parecer inocente. Sei que vivemos em um mundo capitalista e tudo não passa de uma jogada de marketing para vender mais e aumentar o faturamento. É; eu sei. Mas me pergunto: o que estamos fazendo com o natal? Aonde tudo isto vai nos levar? Ou melhor: levarão nossos filhos. Ultimamente, meu espírito natalino havia se revigorado principalmente em função do meu filho. Para as crianças, o natal ainda é mágico. É mágico por que são inocentes. Mas não devemos confundir inocência com burrice. Não vai demorar muito para perceberem. Se ainda hoje o natal sobrevive, é principalmente em virtude de nossas recordações de crianças. Estamos conseguindo acabar também com as recordações. Elas deixarão de existir. Quais serão as recordações dos futuros pais? Então, para que ninguém esqueça, responda a pergunta: o que é o natal?

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