"Fora do campo das competições há outro universo de emoções no esporte: as milionárias fontes de financiamento, a maioria de origem governamental, mas com aplicações nem sempre transparentes e, por isso, motivos de frequentes investigações". (José Cruz)
Ainda falando de
Olimpíada; escrevi na postagem anterior que era necessário enumerar todos os
problemas e dificuldades encontrados no caminho que leva ao pódio olímpico. O
Jornalista José Cruz o fez com muita propriedade. José Cruz cobre as áreas de
política, economia e legislação do esporte.
O Brasil
esportivo, mesmo com recordes de medalhas, deixa os Jogos de Londres reprovado
no vestibular do pódio olímpico. E a principal derrota não é dos atletas, mas
do governo federal, que fracassou na política de financiar o alto rendimento a
partir de 2003, ignorando os elementares investimentos na iniciação e no
desporto escolar.
Temos
espetaculares 33 milhões de estudantes, mas é potencial ainda desprezado devido
à falta de projetos a partir da prática de educação física, ponto de partida
para criar nos jovens a cultura do esporte. Mesmo assim, houve investimentos:
R$ 2 bilhões no último ciclo olímpico, mas no alto rendimento. Foi o dobro do
aplicado na delegação enviada aos Jogos de Pequim, em 2008.
Em
2016, o Rio de Janeiro receberá a histórica Olimpíada. Mas, amadoristicamente,
a sexta economia mundial ainda convive com a incerteza sobre os rumos para
tornar o Brasil país olímpico. E isso é grave, não só sob a perspectiva de
conquistas de pódios como de desperdícios públicos. Porque uma coisa são os
jogos, as disputas; outra são os negócios do esporte. Nesse binômio também patinamos.
Pelo sistema adotado, o Estado financia os custos da festa, e a iniciativa
privada contabiliza o lucro. Assim como no Pan-Americano de 2007, a disputa
político-institucional é desequilibrada e onera o cofre público.
A
partir de 2003, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez
a opção por investir no esporte. Criou um ministério específico e turbinou
orçamentos. Sancionou a Lei de Incentivo ao Esporte, a Bolsa Atleta, determinou
que as oito estatais — Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Infraero, Casa da
Moeda, Correios, Eletrobras e BNDES — aumentassem o patrocínio para 22
modalidades. Além disso, pagou a conta maior dos Jogos Pan-Americanos, com
custo total de R$ 3,4 bilhões, cujo legado ficou no projeto.
Mesmo
com investimentos bilionários, o governo não fez o elementar entrosamento entre
as pastas da Educação, Esporte e Saúde; não dotou as escolas de quadras
esportivas nem aparelhou as instalações existentes; ignorou a valorização dos
professores, ponto de partida para a elementar prática da educação física
escolar.
Os
tradicionais Jogos Escolares e Universitários, que em outros tempos eram fonte
de identificação de talentos, saíram da área federal e passaram à competência
do Comitê Olímpico. Sem vínculo pedagógico ou compromisso de governo,
tornaram-se eventos de calendário, apenas.
É
nesse contexto de fartura financeira e escassez de programas que repercute o
desempenho brasileiro nos Jogos de Londres. Sem exageros, a colocação do
país no quadro de medalhas não surpreende. O próprio presidente do Comitê
Olímpico, Carlos Nuzman, fez previsão ao afirmar que nos igualaríamos à
Olimpíada de Pequim, quando ganhamos 15 medalhas.
Como
em Jogos anteriores, as apostas de pódios ficaram concentradas em nomes ou
equipes tradicionais. E, se esses falhassem, crescia a pressão sobre os demais
atletas. E tais apostas não levavam em consideração que outros países também se
desenvolveram e preparam as delegações. A Coreia do Sul é o principal exemplo.
Houve
novidades, como a evolução feminina no judô, pódio no boxe e, principalmente, o
ouro de Arthur Zanetti, nas argolas. Mas nenhum desses resultados está
vinculado a uma política de governo, o que agrava o quadro para 2016. Afinal, o
que significa o futebol no contexto olímpico brasileiro? Para o evento no Rio
de Janeiro, a difícil meta é colocar o Brasil entre os 10 primeiros do ranking
mundial.
As
medidas para chegar a essa difícil meta estão atrasadas. Porém o governo
precisa fixar, antes, um perfil hierárquico na desordem institucional em que se
confundem as competências do Ministério do Esporte e do Comitê Olímpico.
Afinal,
o Estado deve se envolver com o esporte de rendimento ou isso é competência da
iniciativa privada? Dinheiro público deve contemplar atletas ou ser destinado
ao desporto escolar, prioritariamente, como determina a Constituição Federal?
Os
Jogos, enfim, provocam emoções, incentivam o patriotismo e movimentam a
economia. Mas o Brasil olímpico ainda está no pódio do amadorismo.
Um comentário:
uau, me gustou mucho.. assino embaixo.. Digo que não há atalhos para se chegar nos resultados.. investir em atletas de ponta é atalho, fico triste em ouvir um vizinho e amigo americano que disse: nos estados unidos todo dinheiro vai pra base!!!Mas esperançoso de que um dia isto mude :)
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