domingo, 3 de julho de 2011

Passem o saleiro


O texto a seguir é de João Ubaldo Ribeiro, foi publicado no O Estado de S.Paulo em 15 DE MAIO DE 2011.

"Quase todo mundo é intimidado por números e "verdades científicas". O sujeito apoia uma asnice em estatísticas que não ocorre a ninguém questionar e aquilo é aceito sem maiores indagações. É o que sucede, por exemplo, com as afirmações taxativas, que ouvimos pela televisão, segundo as quais a lei seca no trânsito já salvou (meu número é chutado, não lembro agora os deles, mas não vêm ao caso) 4.228 vidas este ano, ou qualquer coisa assim. Eu pergunto como é que se sabe isso? Procuram-se no domingo os vivos que circularam de carro no sábado e pergunta-se se eles deixaram de beber na noite precedente por causa da lei seca? E, se tivessem bebido, inevitavelmente morreriam? Como é que se sabe, e com tanta precisão, quantas mortes haveria, sem a lei seca? Já tentei achar a fórmula que eles aplicam, mas é difícil. A mesma coisa acontece com as novidades publicadas nas páginas de ciência dos jornais. Todo dia alguém revela algo antes desconhecido e achamos mais um consolo, nesta vida sobre a qual sabemos tão pouco e na qual só temos certeza mesmo da morte. Uma verdade científica parece nos dar a sensação de que o mundo, afinal, pode ser parcialmente explicado - se não a Criação, pelo menos o seu funcionamento. E, se pode ser explicado, pode ser também parcialmente controlado, embora de vez em quando a natureza nos faça ver que não é bem assim.(...)
Não se fala muito mais nisto, mas o exame da dedada, para dar um exemplo em outra área, envolve duas "verdades científicas" diametralmente opostas. A Organização Mundial de Saúde desaconselha aos homens (ou seja, acha prejudicial que se faça) o exame da dedada e declara inútil a medição do PSA. Os urologistas dizem que a verdade científica é deles e a OMS está errada. Como leigo, não sei em quem botar fé, mas um diabinho mordaz me sopra cá um comentário sobre a opinião dos urologistas. A 500 contos a dedada, malda ele, qualquer um sustenta que ela é indispensável. (...)
" (LEIA TEXTO COMPLETO)

Nenhum comentário: