sábado, 7 de novembro de 2009

A linha de sombra


Ah o tempo! Em um piscar de olhos não somos mais os mesmos. Ou, nunca deixaremos de ser. Quem sabe? Acontece que antes mesmo de termos consciência das mudanças que o tempo é capaz de nos infligir, tudo mudou. Quer gostemos ou não, acabamos deixando muita coisa para trás. Nossa linha de sombra, ficou para trás. Mas elas não estão esquecidas. Não! Isso nunca. Basta um momento qualquer e logo cada sentimento é revivido. Não importa há quanto tempo ele esteja adormecido. A foto a baixo é um destes momentos. Está longe de ser um momento qualquer.
A foto foi tirada no casamento do Dener e da Renata (26/07/2008). O brinde, já histórico, foi realizado no banheiro masculino na festa do casamento. No banheiro! Imaginem vocês. Depois de uma boa dose de boa música e um pouquinho de prosecco (tudo bem, não foi tão pouquinho assim...), o noivo, eu e o Douglinhas (Daniel San segundo minha esposa) resolvemos ir ao banheiro. Nada mais simples e compreensível. Acontece que estando lá paramos um pouco para conversar. Um pouco, dançar cansa! Não tenho a menor idéia do assunto. Como poderia? Mas, fomos ficando e aos poucos outros foram chegando. O brinde, que a foto eternizou, deve ter acontecido após uns trinta minutos de muitas risadas. Neste tempo, apareceu também o garçom para encher os copos (a bem da verdade ele apareceu mais de uma vez por lá) e claro, o fotógrafo não poderia faltar. Não sei como ele nos descobriu. A farra só foi terminar com a irmã do noivo invadindo o cativeiro e resgatando o noivo de maneira heróica após cerca de quarenta minutos de cárcere não privado. Sim! Heróica. Por que não foi nada fácil.
O brinde, claro foi em homenagem ao noivo. Não poderia ser diferente. Mas basta ver no sorriso de cada um para entender que também brindamos àquele momento especial. O momento que resgatou um pouco e por alguns minutos, sentimentos que tempo nenhum será capaz de apagar. Salute!
Ao escrever o texto me inspirei no livro de Joseph Conrad. A linha de sombra. Conrad explica da seguinte maneira a linha de sombra:
"Apenas os jovens têm tais momentos. Não me refiro aos muitos jovens. Não. Os mais jovens não têm, a bem dizer, momento algum. É um privilégio do começo da juventude viver adiante de seus dias, em toda e bela continuidade de esperança que não conhece pausas ou interrupções. Fecha-se atrás de si o pequeno portão da mera meninice – e adentra-se um jardim encantado. Até as sombras aqui resplandecem cheias de promessas. Cada curva da vereda tem suas seduções. E não porque se trate de um país desconhecido. Sabe-se muito bem que a humanidade toda já trilhou aquela senda. É o encanto da experiência universal, da qual se espera extrair uma sensação incomum ou pessoal – um algo que seja só nosso. Vai-se reconhecendo os marcos dos predecessores, excitado, divertindo-se, aceitando a boa como a má sorte – as rosas e os espinhos, como se costuma dizer -, o pitoresco lote padrão, que guarda tantas possibilidades para os merecedores, ou talvez para os afortunados. Sim. Vai se adiante. E o tempo, também, caminha – até que se percebe logo adiante uma linha de sombra avisando-nos que também a região da mocidade deverá ser deixada para trás."


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