sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

A alma adormecida dos tolos

"...no fundo nunca fomos o que éramos antes, só lembramos o que nunca aconteceu..." (Carlos Ruiz Zafón)


Zafón tem realmente uma habilidade única com as palavras. Claro; é sempre uma questão de gosto. De identificação. Seus livros e frases me trazem diversos questionamentos. Ainda bem; melhor assim. A última de O prisioneiro do céu: “Louco é quem se acha sensato e pensa que não tem nada a ver com a categoria dos tolos”. Calma. Pode ler novamente. Eu espero.
Realmente somos todos tolos. E para ficar bem entendido, tolo significa: “quem diz ou pratica tolices; sem inteligência ou sem juízo. Tonto, simplório, ingênuo, abestalhado, abobado, amalucado. Que não tem razão de ser; infundado...” Você já sabia. Eu sei. Não queria deixar dúvidas...
“Tudo se perdoa nesta vida, menos dizer a verdade.” Esta afirmação está no mesmo livro. Então, perdoem este tolo que nada tem de sensato e há muito tempo deve ter ficado louco. Pense por um segundo em sua vida. Não é tudo tão simples? Tudo tão claro? Então... Somente sendo muito tolo! Não concorda?
Li certa vez que esperança é certeza. De acordo com a igreja Católica, a esperança é a segunda das três virtudes teologais. Não vou escrever sobre religião. Não é este o caso. Mas, vamos concordar: esperança deve ser mesmo uma virtude. E, citando mais uma vez Zafon, “... uma vez perdida toda a esperança, o tempo começa a correr depressa e os dias sem sentido adormecem a alma...” E quem quer ter a alma adormecida? Somente um tolo...

domingo, 25 de outubro de 2020

Parte 47 – Quadragésimo sétimo contato

 


    Já falei sobre encruzilhadas em outra oportunidade. As palavras são repetitivas. As encruzilhadas também. Já é suficiente. Espero que já tenha compreendido e não seja mais necessário falar sobre isso. Assunto encerrado. Ou não. Você sabe. Não tem regras. Risos.
    São tempos estranhos. O meu, não o seu. Estava esperando um pouco. Precisava formar alguma opinião antes de escrever algo para você. O tempo está passando e até agora não consegui. Não importa. Você sabe que pouco revelarei sobre o futuro. Situações inusitadas e inesperadas acontecerão sempre. Mesmo o mundo não estando preparado para elas. De uma maneira ou de outra, precisaremos conviver com isso. Fugir não é opção. Eu sei. Você não foge. Eu também não. Calma. Ainda somos os mesmos. Vivemos para um dia, quando nos perguntarmos se nossas escolhas e atitudes nos trouxeram aonde gostaríamos, resposta deixe nossa consciência em paz. Mas, preciso alertar você. Nem sempre dependerá de você. Na verdade, quase nunca. Esteja preparado. Conforme-se. Cada um faz sua escolha.
    É incrível o poder dessas cartas. No início não tinha consciência disso. A ideia era ajudá-lo no caminho que precisaria percorrer até onde eu me encontrava. Mesmo que você nunca conseguirá me alcançar. Eu sabia que, de alguma maneira, poderia mudar você. Querendo ou não. Não parei para pensar. Mudando você, eu também mudaria. O passado não é apenas passado quando paramos para refletir sobre ele. Einstein disse que “A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”. Talvez, essa relação não esteja associada a viagens no tempo. Não no sentido literal.
    Tenho me perguntado quando será o melhor momento para terminar essas cartas. Do contrário, um dia, elas encontrarão a primeira e então, as cartas passarão a influenciar as cartas. Loucura. E qual seria o resultado? Ainda não sei.

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quarta-feira, 1 de julho de 2020

Parte 46 – Quadragésimo sexto contato

       

    ...é preciso vivenciar e aproveitar cada oportunidade. Sei que você está passando um período complicado. Perco um pouco a noção do tempo. Você tinha catorze anos no meu primeiro contato. Onze anos se passaram. É sempre difícil quando temos dúvidas. Queremos respostas prontas. Espero que entenda minha ausência. Era muito importante que suas decisões fossem apenas suas. Você já entendeu. Se suas escolhas foram certas? Você escolheu. E isso basta. Escolher é poder, de certa maneira, ter algum controle sobre nossa vida. Mesmo que pequeno. É preciso que aprenda, de uma vez por todas que não poderá controlar tudo.
    Mas aqui no meu tempo, começo a acreditar que de alguma maneira essas cartas chegaram até você. Não sei como. Mas começo a ver algumas transformações. Não é incrível? Não se anime. Não vou falar sobre elas. Vou falar do seu momento. Estou fazendo umas contas. Acho que cheguei bem no meio né? Não ajudarei você com respostas. Mas já que estou aqui, posso dar um incentivo.
    Somos determinados por nossas escolhas. E elas, determinadas por quem somos. Em algum momento da vida todos nós temos nossas encruzilhadas. Invariavelmente mais de uma. O problema é saber se ao final do caminho escolhido teremos uma tempestade ou um sol brilhando. Obviamente a dificuldade não se encontra no caminho a ser seguido, mas na escolha a ser tomada.
    Não vou falar de sol brilhando. A questão é a tempestade. Dizem que “Algumas tempestades chegam apenas para testar a força de nossas raízes”. Não encontrei o autor da frase, mas nada parece ser tão verdadeiro quanto a importância de nossas raízes. Elas estão aí. Influenciando em cada decisão tomada. Trata-se de quem você é e não de quem gostaria de ser. Pode fingir. Apenas por um tempo. No final a verdadeira essência prevalecerá. Sempre.

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terça-feira, 23 de junho de 2020

Parte 45 – Quadragésimo quinto contato


Não é realmente incrível? Eu falava sobre mais um dia e veja você. Eu sei, você não pode ver. Se você soubesse. Se alguém soubesse! Nem mesmo eu... Não importa. Fico pensando que minhas palavras para você ao longo desses anos, por mais que pouco ou nada revelassem já seriam algo para me agarrar. Estou mais cego do que você. Sempre estive. E talvez por essa razão, encontrei uma maneira de chegar até você. Posso ajudá-lo. E Você? Pode me ajudar?

Não, não tem uma maneira de você chegar até mim. E a única forma de você me ajudar é não me deixando esquecer de tudo que venho tentando ensinar para você. Eu sei. Não vou. Jamais o faria. Aprendi.

 Uma coisa não mudou, posso garantir. Se não fizer meu sangue ferver e meu coração bater mais rápido, nem levanto. Do contrário, seríamos como a maioria e nos entregaríamos ao que queremos no futuro e não viveríamos a vida que está passando. E não é o futuro a consequência dessa vida vivida hoje? Sim, sempre soubemos. Nos entregamos ao agora. “Para ver o mundo num grão de areia. E o céu numa flor silvestre. Segurar o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora.” Ah! Blake! Um inconformado por natureza. Incompreendido. Um contestador da razão. Louco? Não somos todos? Ele já sabia. Sou repetitivo. É para você não esquecer. Leia. Releia. O assunto se repete. A vida não.

Você deve estar se perguntando se estou em pé ou continuo sentado? A você cabe apenas continuar por aí. Não há nada que possa fazer. Algumas coisas não tem explicação. Ou talvez tenham, e a explicação seja mais difícil de entender. E quem precisa entender? Então você não sente? É realmente tão difícil assim? Eu sei. Para valer a pena...

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sábado, 28 de março de 2020

Eterno Retorno - Nietzsche



Eterno Retorno é um conceito desenvolvido pelo filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900). O trecho a seguir está em sua obra A Gaia Ciência (1882). Leia e Pense Nisso, qual seria sua reação? Felicidade ou desespero?

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!“

quarta-feira, 25 de março de 2020

Parte 44 – Quadragésimo quarto contato



Ah! Meu caro! Quanta ignorância. Minha, não sua. No seu caso não sei como podemos chamar. Para falar a verdade, não tem importância. O problema não é quem somos. É quem acreditamos ser. Somos uma distorção da realidade. Será que seremos sempre ignorantes? Talvez seja essa a essência da vida. Vivemos e com o tempo constatamos o quanto estávamos equivocados. Então, acreditamos ter aprendido e o tempo passa para novamente descobrirmos o tamanho da nossa ingenuidade. Qual é o verdadeiro aprendizado? A maturidade deveria nos ensinar a não ter medo da verdade.
            Tudo acontece muito rápido. Sem aviso. Talvez seja esse o problema. As coisas acontecem e mudam sem estarmos preparados. Já percebeu. Sei que não pensou muito sobre isso. É melhor pensar. Estava preparado para todas as mudanças ocorridas na sua vida? Você é um ingênuo. Acredite em mim.
            Sei o que deve estar pensando. Seria muito mais simples eu alertar você. Desta maneira nada seria uma surpresa. Nada aconteceria de uma hora para outra. Tudo seria mais fácil. Já conversamos sobre isso. Não são assim que as coisas devem ser. Quem falou que as coisas devem ser fáceis? Ao contrário do que você espera, trago mais perguntas do que respostas. Conforme-se.
            O difícil é estar e não ser. É ver quando não está. É passado que não passa, futuro que não chega. O presente é espera. Dias, momentos, memórias, um tempo que não volta. Desejando que aquele momento nunca acabasse. Que foi infinito. Todos nós temos nossos jardins secretos. Não conseguimos ficar afastados o tempo todo.
            Divagações de um tolo. Talvez seja o tédio. Não é fácil para alguém tão inquieto como eu. Desculpe, como nós. Também não vou falar sobre isso. Dias, anos, uma vida toda. Uma vida de Memórias. E amanhã, teremos mais um dia...

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Parte 43  - Quadragésimo Terceiro Contato

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Entre Negativas e Afirmações...




Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes apenas um segundo.
(Lewis Carroll)

Temos várias razões para escrever. Certamente o mesmo número para não fazê-lo. Sempre fui admirador de Machado de Assis. Quem, em sã consciência, não é? Perdoe-me, se não for o seu caso. Por isso disse em sã consciência. Enfim. Aproprio-me “Das Negativas” de Memórias Póstumas para explicar melhor: Brás Cubas chega ao final, do outro lado do mistério como ele mesmo diz, afirmando que “Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra...”.
 Sempre admirei nosso Poeta Maior por escrever essa obra sobre nada. Calma. Não é nenhuma heresia. Você precisa concordar que a vida de Brás Cubas não é diferente de qualquer cidadão comum. Quem quer ler a respeito de uma vida comum?  E essa é, para mim, a genialidade da história. O que seria um motivo para não escrever, foi exatamente a razão para fazê-lo.
Então, acabo por utilizar de uma maneira um tanto confusa para explicar minha ausência por aqui. E da mesma maneira esclarecer que tento agora fazer das minhas negativas as minhas afirmações. E assim, escrevo.
E escrever, nesse momento, me dá a sensação que ficarei entre algum ponto entre o efêmero e o eterno. Não que seja minha intenção. Falar em efêmero nos remete ao que é passageiro, que dura pouco tempo. Que é transitório. Que assim seja! Amém. Mas pense em sua própria vida: nesse exato momento, ela se parece efêmera para você? Eu sei, nenhum pouco. Talvez um dia. E é aí que nos aproximamos da ideia do eterno. E será que poderemos afirmar, assim como Brás Cubas, que sairemos quites com a vida? Não sei para você, mas para mim só resta esperar que o efêmero se torne eterno. E que ao final eu não tenha um capítulo de negativas, mas de afirmações...